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"Eu sou o Colombo da minha alma e diariamente descubro nela novas regiões." | Gibran Khalil Gibran.

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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

SORTE OU AZAR?

Um velho e conhecido conto indiano narra a história de um camponês que tinha apenas três coisas de valor: uma pequena propriedade, um cavalo e um filho que estava no auge da juventude.
Tudo ia bem na vida do humilde campônio quando o seu cavalo desapareceu. Ao invés de desesperar-se, manifestou resignação, amadurecido pelas duras lições da sobrevivência.
No entanto, ao saber do ocorrido, o vizinho mais próximo apareceu e, no lugar de prestar solidariedade, apenas indagou:
- Nossa! Que azar, hein!
Ao que o velho serenamente respondeu:
- Azar? Sorte? Eu não sei... Só o tempo dirá!
Passados três dias, para surpresa de todos, o cavalo apareceu, mas não veio sozinho, trouxe com ele um outro cavalo, mais forte, mais jovem e mais bonito.
O camponês regozijou-se, aceitando o acontecimento com naturalidade.
O vizinho, contudo, quando tomou conhecimento do fato, retornou à pequena propriedade e exclamou, mal escondendo a inveja:
- Nossa! Que sorte, hein! Nunca vi um cavalo tão bonito como esse.
Revelando sabedoria, o camponês novamente afirmou:
- Sorte? Azar? Eu não sei... Só o tempo dirá!
Naquele mesmo instante, contrariando a vontade do pai, o filho montou sobre o novo cavalo, desejando domá-lo.
Foi quando o inusitado se deu. O cavalo saiu em disparada e o filho do camponês não conseguiu controlá-lo, caindo e quebrando a perna em três lugares.
O vizinho, esquecendo o dever de estender a mão e ajudar, apenas sentenciou:
- Nossa! Que azar, hein!!!
O velho camponês manteve-se calmo e disse novamente:
- Azar? Sorte? Eu não sei... Só o tempo dirá! - e foi atender ao filho machucado.
Uma semana depois, os soldados do rei aparecerem no pacato povoado, recrutando todos os jovens para a defesa do reino, em razão de uma invasão iminente.
O filho do camponês, por estar com a perna quebrada foi poupado.
O vizinho, desesperado por ter tido o seu filho levado para o exército do rei, asseverou novamente ao camponês, cheio de despeito:
- Nossa! Que sorte, hein!!! - chorando de modo inconsolável.
Por sua vez, o camponês lhe redarguiu como sempre o fazia:
- Sorte? Azar? Eu não sei... Só o tempo dirá!
 
 ***
Dando o que pensar, esse conto indiano não tem um desfecho preciso, podendo ser continuado indefinidamente.
Destaca-se a figura do camponês que, não obstante a sua simplicidade, demostrava grande sabedoria. Ele tinha o tipo de sabedoria que não é encontrado nas informações veiculadas pelos livros, mas que só é adquirida ao longo das duras e das difíceis experiências da vida.
Ante os acontecimentos infelizes, comportou-se com serenidade, não dando guarida ao desespero.
Ante os acontecimentos felizes, não se exaltou, conservando-se o mesmo.
Compreendia que todos os episódios da vida são revestidos de transitoriedade. Tanto as coisas ruins quanto as coisas boas vêm e vão, sem se ter o menor controle sobre elas, cabendo a cada um que as recebe, recolher em si as lições que pretendem deixar.
O bem que se quer, muitas vezes, pode ser um mal, tanto quanto o mal que não se deseja, pode ser na verdade um bem.
Talvez a melhor atitude a ser tomada diante dos enfrentamentos diários seja a do velho camponês: manter-se aberto e atento aos sucessos da existência, sempre numa perspectiva  tranquila e serena.
Afinal, não se sabe se é sorte ou se é azar, pois só o tempo o dirá...

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