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domingo, 7 de junho de 2015

PATATIVA DO ASSARÉ E A VIDA DEPOIS DA MORTE

     Iniciei a leitura do livro "Cante lá que eu canto cá", do poeta Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré. Para minha surpresa, num dos primeiros poemas da obra, encontro alguns versos que fazem referência à compreensão que o poeta tinha da morte, ou melhor, do que vem depois dela.
     Patativa do Assaré, natural da cidade de Assaré - CE, viveu entre 1909 e 2002. É considerado um dos maiores poetas populares do Brasil. Seus escritos chegaram até a ser estudados fora do Brasil, em universidades como a da Sorbonne (Paris). Vale a pena conhecer o seu trabalho.
     Vamos aos versos aos quais me referi. Eles se encontram na última estrofe do poema "Eu e o sertão", de 1973:
E mesmo depois de morto,
Mesmo depois de morrê,
Ainda gozo conforto,
Ainda gozo prazê,
Pois, se é verdade que as arma (almas),
Mesmo as que vivero carma (calmas)
E arcançaro a sarvação,
Fica vagando no espaço,
Os meus caracó eu faço
Pro riba do meu sertão.
     Fazendo uma rápida análise desses versos do ponto de vista espírita, podemos afirmar que:
* a morte não é o fim da vida, pois esta segue além;
* identifica-se a desconstrução da  ideia tradicional de "salvação", pois, segundo a mesma, as almas que a obtiveram rumariam para o "céu" ou "paraíso", e não é o que o autor dá a entender;
* depois da morte, as almas ficam "vagando no espaço", o que remete a ideia de que as almas (ao menos algumas delas) não possuiriam um local definido para ficar;
* e, por fim, destaca-se o amor do poeta ao lugar em que vive, traduzindo-se como apego depois da morte, posto que pretende continuar por ali mesmo.
     É impressionante como de um simples poema de um poeta popular podemos deduzir alguns dos princípios espíritas que solucionam os mistérios da vida e da morte.

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