Hoje é impossível ler todos os livros espíritas que já foram publicados ou que tratam do Espiritismo sobre diferentes angulações, ao menos no espaço de uma única existência, por mais longeva que ela seja. Por essa razão, aquele que deseja aprofundar seus conhecimentos espirituais, a partir do viés espiritista, terá, necessariamente, que aprender a selecionar as suas leituras. Cada um acaba encontrando o seu próprio método de fazer essa seleção. O essencial, em meu ponto de vista, é priorizar a leitura e o estudo das obras escritas, organizadas e publicadas por Allan Kardec. Tal iniciativa será de grande valia para podermos julgar com acerto a qualidade dos livros “espíritas” que temos em mãos, sendo capazes de avaliar, com um rápido exame, se merecem ser lidos ou não. Feito esse breve introito, tomo a liberdade de sugerir um livro que eu julgo que vale a pena ser lido e refletido em profundidade.
Se está certo o ditado que afirma que não se deve julgar um livro pela capa, pode-se complementar que também não se deve julgá-lo pelo tamanho. Às vezes, um pequeno livro vale por uma biblioteca – sem exageros! “O Reino”, de José Herculano Pires, em minha opinião, é um desses livros, e isso sem destacar a sua atualidade, embora tenha sido escrito em 1967. O livro, quando é verdadeiramente bom, parece mesmo ostentar entre as suas muitas virtudes também a da atemporalidade.
Escrito em apenas quinze dias, de 1 a 15 de março do ano citado, em São Paulo, na Vila Clementino, “O Reino” constitui uma importante reflexão sobre um dos temas centrais das pregações de Jesus, que era o anúncio do Reino de Deus ou do Reino dos Céus. Esse tema é profundo e, igualmente, muito delicado, porque tange tanto à condição psicológica quanto à sociológica do ser humano no mundo. O Reino de Deus é sim uma busca interior, mas é também um plano de ação no mundo, que afeta tanto o nosso comportamento quanto as nossas relações com as outras pessoas.
“O Reino” está dividido em oito capítulos, indo do primeiro, “A proclamação”, até o oitavo, “A Tese do Reino”, iniciando com uma pergunta muito significativa, “poderia um carpinteiro fundar um Reino”, encerra de maneira categórica afirmando que “a tese do Reino é de reforma profunda, não superficial”, avançando que nesse sentido é necessário tanto a transformação do homem quanto a do meio em que vive, posto que um espelha o outro.
É um livro que se lê em poucos minutos, em função do seu tamanho, mas que exige uma reflexão demorada sobre casa um dos temas evocados, sobretudo os mais polêmicos, como a posição espírita sobre as questões econômicas, políticas e sociais.
“O Reino” termina com um decálogo, orientando a nossa reflexão e destacando a advertência evangélica: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua Justiça...”
Como excertos do livro, seguem as dez diretrizes apresentadas pelo autor para exercitarmos tanto a reflexão quanto a prática diária na busca e na realização do Reino de Deus dentro e fora de nós.
“I – Ao acordar pense no Reino, antes de pensar nas coisas terrenas. E ore. Peça ao Jovem Carpinteiro que lhe dê forças para não se deixar fascinar pelos pequenos reinos dos homens e para amar a todos.
II – Antes de iniciar o seu dia lembre-se e grave na sua mente que tudo o que você fizer deve ser feito em favor do Reino, mesmo no seu trabalho e nas suas mínimas obrigações rotineiras.
III – Afaste do seu coração qualquer ressentimento contra quem quer que seja. Comece o dia com um sentimento de gratidão a Deus pela bênção da vida e pela bênção maior da compreensão do Reino.
IV – Faça ou renove o seu voto de humildade, prometendo a você mesmo não ceder ao orgulho, à vaidade, à cólera, à arrogância, à ambição, à prepotência, à violência, pois todas essas coisas conduzem aos reinos dos homens, desviando-nos do Reino de Deus.
V – Prometa manter-se calmo e buscar a serenidade em todas as circunstâncias.
VI – Tenha confiança na verdade. Só assim você não perderá a razão quando o injuriarem, caluniarem, disserem mentiras a seu respeito, pois compreenderá que só a verdade prevalece e que ela não necessita da força, da astúcia ou de qualquer manobra para se impor.
VII – Busque a pureza: todas as coisas são puras quando as encaramos com amor, compreensão e pureza. Não há atos impuros para o homem que mantém o seu coração puro. É a nossa malícia que faz impuras as coisas de Deus. Evite sempre os excessos, que são provenientes do egoísmo, fonte da impureza.
VIII – Não se esqueça de que o pior dos homens é seu semelhante, seu irmão. Trate a todos com amor e justiça. Mas cuidado na justiça, que o nosso egoísmo facilmente transforma em injustiça. E seja abundante no amor, em que somos sempre tão pobres e avaros.
IX – Não roube; não aprove o roubo; não elogie o roubo; não queira possuir mais do que o necessário, porque para isso é preciso tirar dos outros e aumentar a miséria do Mundo, em prejuízo da riqueza do Reino; afaste-se da corrupção do século e dê o exemplo do Amor e da Justiça do Reino.
X – Não se apresse nem se iluda, pois o Reino não vem por sinais exteriores; precisamos construí-lo paciente e corajosamente no coração dos homens, pelo nosso exemplo. Amor, Desapego e Pureza são os instrumentos de construção do Reino de Deus na Terra. Aprenda a trabalhar com esses instrumentos e você ajudará a construir o Reino.”
Referência:
PIRES, José Herculano. O Reino. 4.ed. São Paulo, SP: EDICEL, s.d.
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