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"Eu sou o Colombo da minha alma e diariamente descubro nela novas regiões." | Gibran Khalil Gibran.

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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

APRENDER A MORRER PARA APRENDER A VIVER



O tabu da morte.

A palavra tabu vem do polinésio, significando algo que é sagrado, intocável ou proibido. Justamente nesse último sentido, no de proibição, é que a morte tem sido considerada em nossa cultura.
Mesmo sendo um impositivo biológico, todos tendo que passar por ela, a morte é um tema recorrentemente evitado.
Dificilmente se fala sobre a morte e o morrer...
Ao longo do dia, nossos diálogos giram em torno dos assuntos mais diversos, no entanto, dificilmente tangem a questão da morte.
Nada obstante, o problema da morte é de extrema relevância para o homem e para a sociedade.
Talvez, muitos dos problemas que se enfrenta na atualidade, causadores de infelicidade e perturbação, não ocorreriam se nos preocupássemos mais com o que diz respeito à morte.
A morte é um fenômeno complementar à vida, havendo íntima ligação entre ambos, não podendo ser deixada de lado, como se não existisse, sob pena de nos iludirmos, como vem acontecendo.
Precisamos, urgentemente, tratar da temática da morte, procurando entendê-la de forma mais ampla e correta.

Verdades que são eternas!

Malgrado a opinião de alguns, muitas verdades se afirmam como eternas, ao menos do nosso ponto de vista. Uma delas é a da existência da alma e a sua imortalidade. Todos os povos do nosso planeta apresentaram e, ainda, apresentam uma noção mais ou menos clara a esse respeito, constituindo a base dos seus sistemas religiosos.
Cumpre destacar que a crença religiosa na existência da alma e da sua imortalidade, que é, por assim dizer, universal, hoje possui uma série de elementos que a evidenciam, alterando aos poucos o seu status de crença para fato positivo.
Considerando os avanços científicos da atualidade e a preocupação crescente de alguns homens de ciência em explorar as fronteiras da morte, é possível que num tempo muito breve, a alma e a sua imortalidade passem a ser, para o mundo acadêmico, fatos incontestáveis.
Enquanto isto não ocorre, porém, diante da verdade eterna da alma e da imortalidade, cada um de nós deve abordar de forma direta o problema da morte, quebrando o seu tabu.

Para o Espiritismo, uma mera transição...

Segundo o Espiritismo, na esteira das religiões e filosofias espiritualistas, a morte é meramente uma transição de um modo de vida para outro.
Baseado em fortes evidências, confirma a existência da alma, da sua imortalidade, das múltiplas dimensões espirituais que aguardam o ser após a morte, entre tantas outras coisas...
Solucionando o grave problema da morte, o Espiritismo apresenta um conjunto de diretrizes que permite que nos conduzamos melhor pelos caminhos da vida, através do diminuto tempo circunscrito ente a vida e a morte.
Assim, para o Espiritismo, é da perspectiva da morte que vem a sabedoria necessária para orientarmos a nossa vida com segurança.
Aquele que sabe que está no corpo só de passagem, cumprindo tarefas específicas no meio em que vive, encara a vida de outra maneira, valorizando mais as coisas que estão dentro de si, formando seu patrimônio inalienável, tais como o saber, as virtudes, as boas lembranças, etc., do que as coisas que estão fora de si, das quais tem consciência de ser apenas um usufrutuário.

Uma experiência de quase morte.

A Dr. Elizabeth Kübler-Ross celebrizou-se pelos estudos e pesquisas que empreendeu sobre a morte e o morrer. Percorreu várias partes do mundo realizando palestras, conferências e seminários sobre este tema tão importante. Como resultado de vários anos de coleta e análise de dados, convenceu-se quanto à realidade do ser espiritual e quanto à sua sobrevivência depois da morte biológica.
Num dos seminários que realizara, abordando casos de EQMs, experiências de quase morte, pediu, em uma oração íntima, que a sua explanação fosse corroborada pela narrativa de alguém que estivesse presente e tivesse vivenciado um evento análogo. A sua prece foi atendida.
Ao final do seminário, após a última palestra, a Dr. Kübler-Ross abriu espaço para perguntas, comentários ou algum testemunho pessoal. Para surpresa geral, um senhor levantou-se e dirigiu-se ao púlpito, pedindo permissão para partilhar uma experiência de quase morte que se dera com ele e que fora fundamental para a renovação de sua vida psicológica e relacional.
Ele tinha 45 anos e poderia já estar entre os mortos, não fosse um acontecimento transformador pelo qual passou, que modificou Poe completo a sua forma de ver a vida e o seu quadro de valores.
Quatro anos antes, ocorreu uma verdadeira tragédia em sua vida. Havia programado uma viagem de final de semana com a família, mas na última hora, atendendo obrigações profissionais, resolveu não ir viajar, mas incentivou a esposa e os três filhos a irem assim mesmo, sem a sua companhia. E eles foram...
O homem estava no trabalho ainda, quando recebeu um telefonema perturbador. A esposa e os filhos tinham sofrido um acidente de carro e estavam todos mortos. A vida para ele também acabara ali, porque perdera o seu sentido...
Ele abandonou o emprego, mergulhou no álcool e nas drogas, ficando a vagar pelas ruas ao léu, sem rumo algum...
Certo dia, embriagado, achava-se em uma estrada bem movimentada, quando foi atropelado. A batida projetou-o cinco metros para frente, deixando-o inconsciente, entre a vida e a morte. Nesse ínterim, algo estranho aconteceu, o homem levantou-se, ainda atordoado, sem entender o que estava acontecendo. Para sua surpresa, visualizou a cena de um acidente, vendo a vítima atirada no asfalto. Levou um choque quando se aproximou da vítima e se deu conta de que era ele mesmo. Afastou-se dali, sobressaltado, e, pela primeira vez desde a tragédia que o privara do convívio familiar, lembrou de orar, pedindo socorro ao Mais Alto.
Como nenhuma prece fica sem resposta, a prece daquele homem foi atendida no mesmo instante. Estupefato, divisou ao longe uma luz radiante que vinha em sua direção. Quando a luz se posicionou em sua frente, pôde perceber estranha metamorfose. A luz foi, aos poucos, transformando-se na esposa e nos filhos. Que momento comovente... Todos vinham ao seu encontro, cheios de ternura, bondade e amor... Conversaram largamente... A esposa, preocupada com o rumo que ele dera à própria vida, reprovou-lhe o comportamento autodestrutivo e a revolta contra Deus, esclarecendo que ela e os filhos estavam sofrendo muito pelos descaminhos que ele elegera para si e que só iriam separá-los ainda mais, ao invés de aproximá-los.
Pouco tempo depois, o homem despertava em seu corpo, ressuscitado pela equipe médica.
A vida dele, no entanto, jamais seria a mesma novamente. Aquela experiência causou-lhe um efeito muito positivo, servindo de eixo para remodelar a sua existência. Passou a interessar-se mais pelas coisas espirituais, conseguindo fazer as pazes consigo mesmo e com Deus.

Aprender a morrer para aprender a viver.

Como a morte, cedo ou tarde, sempre chega, precisamos estar preparados para ela. E o que significa isso? Significa, de um lado, poder recebê-la de forma tranquila, isto é, sem medo, sem apreensão, sem incertezas... Já por outro lado, significa poder acompanhá-la, deixando o corpo físico para trás, sem nenhum tipo de trauma, sem grandes abalos ou violência, sem apego excessivo, sem questões em aberto com outras pessoas, sem mágoas e ressentimentos, sem ódios e malquerenças...
Depreende-se, do exposto acima, que se preparar para a morte não é tarefa fácil, demandando um trabalho intenso dentro de nós mesmos, voltados sempre para o bem, para o justo, para o belo... Esse preparar-se para a morte, implica uma aprendizagem que é na maioria das vezes muito lenta e gradual, não sendo recomendável queimar etapas. Do mesmo modo que não aprendemos um novo idioma da noite para o dia, a aprendizagem, a educação para a morte, exige muito tempo e dedicação.
A aprendizagem da morte é fundamental para a aprendizagem da vida.
Inúmeras personalidades se destacaram na história, simplesmente por terem aprendido a morrer, isto é, souberam se posicionar perante as questões da vida servindo-se de uma perspectiva espiritual. Redimensionando o modo de compreensão da morte, encarando-a de frente e com naturalidade, modificaram suas próprias vidas, legando para humanidade uma herança fabulosa em grandes obras, bons exemplos, mensagens sublimes... Apenas para citar algumas dessas personalidades: Moisés, Zoroastro, Fo-Hi, Lao-Tsé, Confúcio, Sócrates, Epícteto, Francisco de Assis, Mahatma Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, Francisco Cândido Xavier...
Desde o berço, no círculo das relações familiares, logo depois, na escola, na sociedade, nas Universidades, no mundo do trabalho, deveria se receber educação permanente para a morte. Como tal não ocorre, o resultado é a nossa dificuldade e o nosso despreparo para lidar com a morte e com o morrer.
Como a estrutura e a conjuntura da sociedade tendem a permanecer as mesmas, até que um acontecimento lhes force a transformação, é muito mais difícil mudá-las do que a nós mesmos. Por isso, o ponto de partida para a evolução da sociedade e do mundo reside na evolução dos indivíduos que as compõem. Se um indivíduo em particular consegue dar um salto evolutivo, a sociedade recebe-lhe a influência, evoluindo também.
A compreensão da morte e, sobretudo, a nossa preparação para ela, marcarão uma nova fase na História da Humanidade, diferente de todas as outras que a antecederam, repousando na pedra angular das realidades do Espírito.

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