No calendário que seguimos, o dia de hoje é dedicado aos mortos.
Milhares de pessoas acorrem aos cemitérios para homenagear os entes queridos que já se foram. A maioria delas acredita acredita que seus afetos continuam vivos em algum lugar, mas não possuem ideias claras e definidas sobre o que de fato se passa depois da morte.
Insistimos que talvez o maior empecilho à nossa felicidade nesta vida seja a generalizada incompreensão sobre a morte.
Para o Espiritismo, a morte é simplesmente uma passagem deste para outro plano existencial. A alma abandona o corpo em que estava, transferindo-se para uma dimensão espiritual específica, na qual se encaixa pelas características que possui. No entanto, não permanece presa ali; frequentemente segue acompanhando de perto os seus afetos, interferindo diretamente em seus pensamentos e tomadas de decisão.
Por isso mesmo, não obstante o respeito que devemos à esta e à outras tantas tradições, já seculares, importa redimensionar a importância e o papel dos “mortos” em nossas vidas em todos os dias do ano, não só no dia de finados.
Allan Kardec fez o seguinte questionamento aos Espíritos: “A visita de uma pessoa a um túmulo causa maior contentamento do Espírito, cujos despojos corporais aí se encontrem, do que a prece que por ele faça essa pessoa em sua casa?” Obtendo uma resposta clara e esclarecedora: “Aquele que visita um túmulo apenas manifesta, por essa forma, que pensa no Espírito ausente. A visita é a representação exterior de um fato íntimo. Já dissemos que a prece é que santifica o ato da rememoração. Nada importa o lugar, desde que é feita com o coração.” (O Livro dos Espíritos, questão 323).
O sentimento, portanto, está acima de tudo.
Ir ao cemitério apenas por obrigação ou desencargo de consciência é o mesmo que não ir.
Para quem não traz os seus “mortos” no coração, a ida ao cemitério é um ato mecânico, destituído de sentido e de valor.
Hoje, no final da tarde, fui visitar o túmulo em que está sepultado o corpo do meu pai. Fiz uma oração para ele e senti sua presença ao meu lado. Conversamos longamente pelas vias da intuição. Foi muito bom para mim. Acho que foi muito bom para ele também. Em nosso diálogo, tocamos em muitos pontos que não tínhamos resolvido antes da sua partida, fazendo sarar algumas feridas... Para mim, de modo especial, o nosso (re)encontro teve um efeito terapêutico.
Em contrapartida, observei tantas pessoas passeando despreocupadamente pelos túmulos, falando sobre trivialidades e algumas até rindo jocosamente... Fiquei pensando se a presença delas ali teria sido tão válida e proveitosa quanto fora a minha, se também tinham sentido a presença afetuosa dos seus “mortos”, se conseguiram se aproximar através da oração, se também aproveitaram o ensejo de colocar os pingos nos “is”. Espero, sinceramente, que sim, pois do contrário apenas terão perdido o seu tempo e mais nada.
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