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"Eu sou o Colombo da minha alma e diariamente descubro nela novas regiões." | Gibran Khalil Gibran.

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domingo, 3 de outubro de 2010

UMA ORAÇÃO DE EMMANUEL



Em 1° de fevereiro de 1974, uma sexta-feira de manhã, o Edifício Joelma, localizado em uma área central de São Paulo-SP, pega fogo e é consumido pelas chamas. Das aproximadamente 756 pessoas que estavam no prédio comercial, 189 desencarnaram em drásticas condições e mais de 350 ficaram feridas. Sofrimento, angústia, incompreensão, revolta... Eis o quadro dramático de uma provação coletiva.
Chico Xavier, já em Uberaba, ouve a notícia do incêndio pelo rádio e logo, na companhia de mais quatro amigos, em reunião particular, passa a orar em prol das vítimas da indescritível tragédia. Após as preces e irradiações, manifestou-se o mentor espiritual do médium, Emmanuel, ditando a oração que segue abaixo:
Auxilia-nos, perante os companheiros impelidos à desencarnação violenta, por força das provas redentoras.
Sabemos que nós mesmos, antes do berço terrestre, suplicamos das Leis Divinas as medidas que nos atendem às exigências do refazimento espiritual. Entretanto, Senhor, tão encharcados de lágrimas se nos revelam, por vezes, os caminhos do mundo, que nada mais conseguimos realizar, nesses instantes, senão pedir-te socorro para atravessá-los de ânimo firme.
Resguarda em tua assistência compassiva todos os nossos irmãos surpreendidos pela morte, em plena floração de trabalho e de esperança e acende-lhes nos corações, aturdidos de espanto e retalhados de sofrimento, a luz divina da imortalidade oculta neles próprios, a fim de que a mente se lhes distancie do quadro de agonia ou desespero, transferindo-se para a visão da vida imperecível.
Não ignoramos que colocas o lenitivo da misericórdia sobre todos os processos da justiça, mas tocados pela dor dos corações que ficam na Terra – tantos deles tateando a lousa ou investigando o silêncio, entre o pranto e o vazio – aqui estamos a rogar-te alívio e proteção para cada um!... Dá-lhes a saber, em qualquer recanto de fé ou pensamento a que se acolham, que é preciso nos levantemos de nossas próprias inquietações e perplexidades, a cada dia, para continuar a recomeçar, sustentar e valorizar as lutas de nossa evolução e aperfeiçoamento, no uso da Vida Maior que a todos nos aguarda, nos planos da União Sem Adeus.
E, enquanto o buril da provação esculpe na pedra de nossas dificuldades, conquanto as nossas lágrimas, novas formas de equilíbrio e rearmonização, embelezamento e progresso, engrandece em teu amor aqueles que entrelaçam providências no amparo aos companheiros ilhados na angústia. Agradecemos, ainda, a compreensão e a bondade que nos concedes em todos os irmãos nossos que estendem os braços, cooperando na extinção das chamas da morte; que oferecem o próprio sangue aos que desfalecem de exaustão; que umedecem com o bálsamo do leite e da água pura os lábios e as gargantas ressequidas que emergem do tumulto de cinza e sombra; que socorrem os feridos e mutilados para que se restaurem; e os que pronunciam palavras de entendimento e paz, amor e esperança, extinguindo a violência no nascedouro!...
Senhor Jesus!...
Confiamos em ti e, ao entregarmo-nos em Tuas mãos, ensina-nos a reconhecer que fazes o melhor ou permites que se faça constantemente o melhor em nós e por nós, hoje e sempre1.”
Esta oração de Emmanuel revela toda a sua sensibilidade e sabedoria, pois ao mesmo tempo em que consola também esclarece, constituindo uma excelente síntese para os problemas do coração e da mente. Embora ela dispense qualquer comentário, em virtude da sua clareza e objetividade, pode-se destacar os seguintes informes:
1 – O incêndio do Edifício Joelma, como todas as provações individuais e coletivas, é categorizado como prova redentora, através da qual as vítimas puderam rearmonizar-se consigo mesmas, libertando-se dos erros do passado.
2 – Emmanuel reforça o ensinamento espírita de que antes de encarnarmos fazemos a escolha das provas pelas quais passaremos na Terra, sendo que estas provas têm como objetivo atender “às exigências do refazimento espiritual”. Esta declaração nos remete diretamente a situação em que cada de nós um se encontra, identificando nas experiências dolorosas pelas quais passamos, as áreas vulneráveis da nossa alma, reclamando por equilíbrio e renovação.
3 – 189 pessoas morreram queimadas pelas chamas ou asfixiadas pela espessa nuvem de fumaça. Imaginem os derradeiros instantes que precederam a morte, deve ter sido de muita dor, angústia, aflição... Todas passaram por uma situação de trauma, separando-se do corpo físico de uma forma rápida e violenta. Compreendendo isso, Emmanuel suplica “(...) que a mente se lhes distancie do quadro de agonia ou desespero, transferindo-se para a visão da vida imperecível”. Provavelmente, a maioria das vítimas, ao enfrentar uma morte dessa natureza, entraram num processo prolongado de perturbação, demorando um certo tempo para reajustarem-se à vida espiritual.
4 – Emmanuel enfatiza que ao lado da justiça está a misericórdia de Deus, não faltando apoio e auxílio para ninguém, nem mesmo para os que estão extremamente comprometidos em razão dos seus erros e gravames. A Justiça Divina obriga o culpado a se reabilitar perante a si mesmo, enquanto a Misericórdia Divina funciona como uma espécie de atenuante, abrandando os rigores da reabilitação necessária. Invariavelmente, todos sofremos os processos da justiça e da misericórdia de Deus dentro de nós mesmos, espelhando-os diretamente nas provações que escolhemos no período pré-encarnatório.
5 – Ressaltando a importância da provação para o nosso ser espiritual, Emmanuel a apresenta como necessária para o nosso “(...) equilíbrio e rearmonização, embelezamento e progresso (...)”. A provação está para a alma, tal como as provas estão para o colegial, objetiva verificar as suas conquistas, avaliando se pode ou não seguir adiante.
6 – Por último, Emmanuel nos convida a refletir sobre o acerto e a correção de todas as coisas e situações, afirmando que tudo ocorre e concorre para o nosso bem, sendo o melhor para nós.
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1XAVIER, Francisco C. / PIRES, J. Herculano. Diálogo dos Vivos. São Bernardo do Campo-SP: GEEM, 1974. p.145-146.

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