Mais de cento e cinquenta anos já se passaram do surgimento do Espiritismo, cujo marco inicial é a data da primeira publicação de O Livro dos Espíritos, que se deu em 18 de abril de 1857, e algo que chama a atenção é a plena atualidade dos seus principais conceitos.
Estruturado numa época de efervescência científica, em que muitos conhecimentos que eram tidos por verdadeiros, com o correr do tempo, mostraram-se equivocados, precisando ser corrigidos, alterados ou até abandonados, o Espiritismo ultrapassou o seu sesquicentenário sem sofrer nenhuma alteração no quadro das suas propostas básicas.
Refletindo uma realidade mais profunda, que é a espiritual, o Espiritismo segue na vanguarda do pensamento humano, inclusive antecipando muitas conquistas que pertencem ao futuro.
As obras escritas por Allan Kardec, que encerram em seu bojo toda a Codificação Espírita, encerram sutilezas que passam ignoradas por aqueles que simplesmente correm os olhos por sobre algumas de suas páginas, sem demorar-se no estudo e na reflexão que exigem.
Quantos têm se levantado, sem ao menos terem lido e estudado toda a produção kardeciana, para afirmar a obsolescência do Espiritismo, declarando que o mesmo não condiz mais com os tempos em que vivemos, demandando ajustamento e atualização. Os que assim se pronunciam, mais não fazem do que evidenciar a própria ignorância em relação à profundidade e ao alcance dos postulados espíritas.
No tempo das novidades, em que as informações se multiplicam freneticamente, de tal forma que quase não conseguimos nos manter atualizados, pretende-se que o Espiritismo incorpore novos princípios, mas que não atendem aos pré-requisitos estabelecidos por Kardec para guiar a evolução doutrinária, como o da coletividade e concordância do ensinamento dos Espíritos.
É justamente em função desta ânsia pelo novo e pelo inusitado, presente em adeptos que, em primeira e última análise, não conhecem a doutrina que professam, que muitos centros espíritas espalhados pelo Brasil estão refertos de práticas estranhas e que não se coadunam com os fundamentos e as proposições do Espiritismo. Alguns centros espíritas nem deveriam ostentar este nome, o melhor seria que o substituíssem por outra designação, como espiritualista, que estaria mais em harmonia com as diretrizes que estão seguindo.
Falta-nos mais leitura, mais estudo, mais reflexão, mais análise das obras básicas do Espiritismo. Enquanto esta carência não for preenchida, continuará grassando nos meios espíritas a ignorância e a incompreensão, que são os dois fatores principais que impedem desdobramentos mais significativos no conjunto dos ensinos espiritistas.
Para aqueles que se abrigam à sombra acolhedora do Espiritismo, mas que não se satisfazem com os seus ensinos e lições profundas, reclamando mais e mais revelações, sempre ansiando por novidades, não sabendo aguardar o tempo certo de cada coisa, adverte Allan Kardec:
“Com extrema sabedoria procedem os Espíritos superiores em suas revelações. Não atacam as grandes questões da Doutrina senão gradualmente, à medida que a inteligência se mostra apta a compreender verdade de ordem mais elevada e quando as circunstâncias se revelam propícias à emissão de uma idéia nova. Por isso é que logo de princípio não disseram tudo, e tudo ainda hoje não disseram, jamais cedendo à impaciência dos muito afoitos, que querem os frutos antes de estarem maduros. Fora, pois, supérfluo pretender adiantar-se ao tempo que a Providência assinou para cada coisa, porque, então, os Espíritos verdadeiramente sérios negariam o seu concurso. Os Espíritos levianos, pouco se preocupando com a verdade, a tudo respondem; daí vem que, sobre todas as questões prematuras, há sempre respostas contraditórias1.”
_________________________________
1KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 120.ed. - Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2002. p.35.
1KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 120.ed. - Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2002. p.35.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário