Auta de Souza nasceu em Macaíba, Rio Grande do Norte, em 12 de setembro de 1876.
Sua vida se caracterizou por um martírio de dores.
Nem completara ainda três anos de idade, a morte leva sua mãe e, em seguida, o pai, deixando-a órfã.
Foram os avós maternos que assumiram a guarda sobre ela e mais seus quatro irmãos.
Aos seis anos, morre também o seu avô, ficando exclusivamente sob os cuidados desvelados de sua avó, D. Silvina de Paula Rodrigues, que Auta chamava carinhosamente de Dindinha.
Auta e seus irmãos são alfabetizados pelo serviço voluntário de um professor amigo da família.
Auta, em particular, apaixonou-se pelas letras e demonstrou desde cedo pendor para a composição poética.
Com oito anos, Auta já lia histórias para outras crianças, velhinhos analfabetos e para escravos em senzalas, demonstrando um pendor natural para o bem.
Aos dez anos de idade, uma tragédia se abate sobre a vida de Auta. Seu irmão Irineu, ao qual ela era muito apegada, morre em um acidente com uma lamparina, que explodiu em suas mãos, incendiando-lhe o corpo. Auta jamais esqueceria a visão confrangedora da morte do irmão amado.
Auta, a avó e os irmãos mudam-se para Recife. Ali, Auta é matriculada no colégio São Vicente, administrado por religiosas francesas, onde tem a chance de aprimorar sua formação, aprendendo inclusive dois novos idiomas, o francês e o inglês.
Auta não demorou a despertar o interesse das religiosas, revelando grande inteligência e sensibilidade.
Além de ler os escritos de Victor Hugo e Lamartine, Fénelon e Chateaubriand, elege para leitura e meditação diária o Evangelho de Jesus, no qual encontrou conforto para as dores e angústias de sua vida.
Aos dezessete anos, aparecem publicadas suas primeiras poesias, mais tarde enfeixadas em um livro, o seu único livro: Horto.
Auta acaba sendo vitimada pela tuberculose, que lhe infligirá dores lancinantes. Mas como o ferro que mostra o seu valor na forja, quando malhado pelo fogo, a dor tão somente desvelará a grandiosidade de Auta de Souza.
Retornando com a família que lhe sobrou, a avó e os três irmãos, de Pernambuco para o Rio Grande do Norte, converter-se-á, mesmo doente, na imagem viva do bom samaritano, ajudando a muitas pessoas pobres e sofridas.
O sofrimento, a dor e a morte constituirão a temática recorrente de suas poesias, todas elas perpassadas por uma profunda compreensão dos ensinos de Jesus.
Em 20 de junho de 1900, circula a primeira edição do seu livro, Horto, com 114 poesias distribuídas em 232 páginas, numa tiragem de mil exemplares que se esgotaram rapidamente.
Oito meses depois de ver seu livro publicado, exatamente no dia 7 de fevereiro de 1901, Auta de Souza fecha seus olhos para vida do corpo, abrindo-os para a vida do Espírito.
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Maior médium de todos os tempos, o seu valor e importância seguem ignorados.
Nasceu nove anos depois da morte de Auta de Souza, em 1910, não tendo, portanto, conhecido-a em vida. Sequer ouviu falar dela na escola, já que precisou abandonar os estudos muito cedo afim de ajudar a família, que era muito pobre.
Desde a infância, Chico Xavier vivenciava experiências mediúnicas, embora só viesse a compreendê-las muito mais tarde.
Na escola, no último ano que estudou, no antigo primário, ante o desafio de escrever algo sobre o nosso país, lançado pela professora, apresentou-se à vidência do médium um Espírito que lhe ditou belíssima poesia, que deixou a todos boquiabertos, professora e colegas, que não concebiam como Chico Xavier havia conseguido escrevê-la. A partir de então, suas experiências mediúnicas se multiplicaram.
Em 1932, surge a primeira obra mediúnica de Chico Xavier, o Parnaso de Além Túmulo, reunindo centenas de poesias de mais de cinquenta poetas da língua portuguesa, tanto brasileiros como portugueses, que demonstravam através de seus versos que não haviam desaparecido para sempre, ao contrário, estavam vivos, mais vivos do que nunca, demonstrando de modo cabal a imortalidade.
Chico Xavier não conhecia a maioria dos poetas que escreveram através de suas mãos, muito menos tivera oportunidade de ler alguma de suas composições. No entanto, segundo alguns críticos literários, a identidade de estilo entre as poesias recebidas pelo médium e as que foram compostas em vida pelos poetas que as assinam é inquestionável.
O Parnaso de Além-Túmulo apresenta 16 poesias assinadas pelo Espírito Auta de Souza. Todas elas expressam uma semelhança impressionante com as poesias que formam a sua única obra em vida, o Horto.
O Dr. Elias Barbosa, entrevistando certa feita, o médium mineiro, pergunta-lhe:
“Recorda, de modo particular, alguma produção que ficasse inesquecível em sua memória?”
Ao que Chico Xavier respondeu:
“Sim, recordo-me de um soneto intitulado 'Nossa Senhora da Amargura', que, se não me engano quanto à data, foi publicado pelo Almanaque de Lembranças, de Lisboa, na sua edição de 1932. Eu estava em oração, certa noite, quando se aproximou de mim, o espírito de uma jovem, irradiando intensa luz. Pediu papel e lápis e escreveu o soneto a que me referi. Chorou tanto ao escrevê-lo que eu também comecei a chorar de emoção, sem saber, naquele momento, se meus olhos eram os dela ou se os olhos dela eram os meus. Mais tarde, soube por Emmanuel, que se tratava de Auta de Souza, a admirável poetisa do Rio Grande do Norte1”.
Das muitas comunicações que Chico Xavier recebeu do Além, cada uma era acompanhada das impressões específicas do Espírito que estava se comunicando. Segundo afirma o médium, como transcrito acima, uma das comunicações que mais lhe marcou foi o seu encontro com o Espírito Auta de Souza, dado a emoção que lhe contagiou a alma, quando escreveu através de suas mãos o seguinte soneto:
Senhora da Amargura
Mãe das Dores, Senhora da Amargura,
Eu vos contemplo o peito lacerado
Pelas mágoas do filho muito amado,
Nas estradas da vida ingrata e dura.
Existe em vosso olhar tanta ternura,
Tanto afeto e amor divinizado,
Que o do vosso semblante torturado
Irradia-se a luz formosa e pura;
Luz que ilumina a senda mais trevosa,
Excelsa luz, sublime e esplendorosa
Que clareia e conduz, ampara e guia.
Senhora, vossas lágrimas tão belas
Assemelham-se a fúlgidas estrelas:
Gotas de luz nas trevas da agonia2.
***
O IDE, Instituto de Difusão Espírita, numa feliz iniciativa, no 66° aniversário de Chico Xavier e no ano em que completaria o primeiro centenário do nascimento de Auta de Souza, publicou uma obra extraordinária, chama Auta de Souza, que reune quase toda a produção mediúnica da poetisa pelo médium mineiro, somando 63 sonetos e 24 trovas.
Colocando as duas obras lado à lado, Horto e Auta de Souza, percebe-se perfeita concordância entre ambas, tanto de forma quanto de fundo, evidenciando a mesma autoria.
A obra Auta de Souza, além de ser um cântico de ternura e esperança, constitui evidência muito forte a favor da imortalidade do ser, posto que reflete inequivocamente o estilo poético de sua autora espiritual quando ainda estava encarnada.
1BARBOSA, Elias. No Mundo de Chico Xavier. 2.ed. São Paulo: IDE. p.19.
2XAVIER, Francisco Cândido. Auta de Souza. 10.ed. São Paulo: IDE, 2004. p. 29.
Maravilhosa poesia de Auta de Souza, inesquecível irmã potiguar, recebida pelo médium Francisco Cândido Kardec Xavier, talvez a primeira página psicografada pelo Cisco de Deus, publicada no mundo, em 1931, no Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro. Obrigado, alta Auta de Souza, professora bendita do caminho de crer, servir e amar, como nos diz o espírito Eurícledes Formiga, numa trova que recebemos, psicograficamente. Salve, Auta de Souza, a cotovia mística de Macaíba, cantando em seu Horto, a glória e o amor de Jesus Cristo, Nosso Mestre e Senhor !!!
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