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terça-feira, 9 de março de 2010

REENCARNAÇÃO - PROCESSO EDUCATIVO!



Na História das idéias religiosas, a reencarnação é uma das crenças mais recorrentes, podendo ser encontrada em diferentes tempos e lugares.
No Espiritismo ela também está presente, ocupando uma posição de destaque. É mesmo um dos seus eixos principais, em torno do qual os demais se articulam.
Numa proposta inovadora, a visão espírita da reencarnação faculta a solução dos grandes enigmas da vida humana, explicando a sua origem, a sua natureza intrínseca e a sua destinação.
Ampliando, assim, a compreensão do homem em relação a si mesmo e à realidade da qual participa, só ela oferece justa explanação sobre o problema do destino, do sofrimento, da desigualdade, dos conflitos psicológicos...
Allan Kardec, interrogando os Benfeitores Espirituais quanto ao objetivo da encarnação, obteve a seguinte resposta:
“Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta[1].”
A proposição dos Espíritos é suficientemente clara, a reencarnação é um impositivo divino que tem por objetivo maior conduzir o homem até a perfeição, aqui entendida como sendo o desenvolvimento global e pleno de todas as suas potencialidades.
A reencarnação, sob este ponto de vista, assume um caráter primordialmente educativo e não punitivo, como muitos a entendem...
O espírita que reiteradamente afirma que reencarnamos para sofrer, identificando nos sofrimentos o castigo ou a punição de Deus, demonstra ignorar o entendimento que o Espiritismo tem do princípio reencarnacionista.
O Espírito reencarna para aprender, para crescer, para desenvolver as suas faculdades, para expandir os horizontes da sua consciência, para evoluir...
A dor, o sofrimento, as lágrimas, no momento psicológico em que vivemos, são, por enquanto, recursos necessários à nossa aprendizagem, sem os quais o nosso amadurecimento interior provavelmente não aconteceria, por serem o resultado de ações impensadas, em contradição com o Código das Leis Divinas. Eles são, deste modo, uma consequência imediata do processo educacional em que estamos inseridos e não o seu objetivo.
A nossa vida seria bem miserável se o seu objetivo fosse o sofrimento! Felizmente, não o é, pois se o fosse, tudo careceria de fundamento e de sentido.
É sempre oportuno lembrar que o projeto de Deus para nós é o da felicidade, ao qual a idéia da reencarnação como punição se opõe frontalmente.
Cabe perguntar se a atitude do professor, que obriga o aluno a refazer certo exercício a fim de fazê-lo assimilar a lição proposta, deve ser categorizada como punitiva. É claro que não, ela pretende, ao invés, fixar uma habilidade ou um conceito que representa o objetivo que está por trás da lição. Assim, da mesma forma que a lição está para o aluno, a experiência difícil está para nós como meio de desenvolvimento, através do qual nos educamos para a Vida Maior.
A afirmação feita pelo Espírito Lázaro, num comunicado mediúnico de 1862, ditado na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, pode lançar um pouco mais de luz sobre a questão:
“[...] Quando Jesus pronunciou a divina palavra – amor, os povos sobressaltaram-se e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo. O Espiritismo a seu turno vem pronunciar uma segunda palavra do alfabeto divino. Estai atentos, pois que essa palavra ergue a lápide dos túmulos vazios, e a reencarnação, triunfando da morte, revela às criaturas deslumbradas o seu patrimônio intelectual. Já não é ao suplício que ela conduz o homem: condu-lo à conquista do seu ser, elevado e transfigurado[2].”
O Espírito Lázaro, fazendo rápida analogia entre o Cristianismo e o Espiritismo, propõe interessante síntese ao apontar a principal contribuição de ambos, o amor de um e a reencarnação de outro, respectivamente, como interface entre nós e a nossa destinação espiritual. Mediante o amor e a reencarnação, portanto, conquistamos o nosso ser, efetuando o autoconhecimento e promovendo o desenvolvimento dos nossos potenciais.
Amor e reencarnação... Palavras do alfabeto divino... Direção e caminho para os nossos passos na Terra.
Se desde já conseguirmos amar, mas amar de verdade, na acepção evangélica da palavra, estaremos maximizando a atual experiência reencarnatória, avançando decisivamente na direção da plenitude.
Cabe, ainda, citar a seguinte declaração do Espírito Emmanuel:
“À medida que o ser se desenvolve, transpondo as fronteiras do instinto a caminho da razão, as leis divinas integram a individualidade na luz do discernimento, através de estímulos considerados dolorosos mas necessários, para que a consciência adote a cooperação espontânea na execução dos propósitos do Senhor, a benefício dela mesma[3].”
Do instinto à razão, a estrada é longa, sendo percorrida por nós de forma muita lenta, em sucessivas etapas reencarnatórias, nas quais vamos aos poucos aperfeiçoando a nós mesmos nos domínios do pensamento, da vontade e do livre-arbítrio. Nesta estrada, entretanto, também há pedras, calhaus e buracos, representando múltiplos desafios a serem vencidos, assim como as nossas dores, sofrimentos e dificuldades.
Lendo e analisando os trechos das comunicações espirituais que citamos neste texto, constatamos que de Kardec à atualidade, a posição dos Espíritos Superiores segue inalterada, apresentando a reencarnação como processo educativo da alma, fomentando o nosso crescimento para Deus. Em cada nova reencarnação compreendemos melhor o objetivo da vida, aprendendo a cumprir a parte que nos toca na obra da criação, como aclara O Livro dos Espíritos; assimilando o amor e vivenciando-o no dia-a-dia, conforme sugere o Espírito Lázaro; e aproveitando os estímulos dolorosos mas necessários que são na verdade os degraus para a nossa ascensão, de acordo com o Espírito Emmanuel.
A reencarnação, portanto, é o processo educativo por excelência, adotado e aplicado pela Pedagogia Divina com o simples propósito de nos fazer crescer, impulsionando-nos em sucessivos ciclos evolutivos na grande busca de nós mesmos, do nosso mundo interior, para sermos, desde já, tão felizes quanto seja possível na atualidade terrena.



[1]    KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 3. ed. (bolso) Brasília, DF: FEB, 1997. Questão 132, p.103.
[2]    KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 126. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. XI, item 8.
[3]    XAVIER, Francisco Cândido. (Emmanuel). Escrínio de Luz.1.ed. São Paulo: Casa Editora O Clarim, 1973. p.10.

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