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"Eu sou o Colombo da minha alma e diariamente descubro nela novas regiões." | Gibran Khalil Gibran.

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sexta-feira, 12 de março de 2010

SANTO AGOSTINHO E A BUSCA DE DEUS



Conta-se que Santo Agostinho, o famoso bispo de Hipona, passeava por extensa praia mediterrânica, absorto em seus pensamentos, procurando solucionar o maior de todos os enigmas: a natureza de Deus.
Caminhava distraído, quando vislumbrou ao longe a silhueta de uma pequena menina. O ato repetido de ir até a água do mar e retornar à areia, protagonizado pela menina, despertou o interesse do grande pensador do Cristianismo.
Uma pequena menina e o seu gesto tiveram o poder de quebrar a postura meditativa de Santo Agostinho, fazendo-o trazer os seus pensamentos de volta ao aqui-e-agora.
Ao se aproximar da menina, perguntou-lhe:
- Olá minha pequena, posso saber o que você está fazendo?
A menina, sem embaraços, mostrou-lhe uma concha que trazia nas mãos e explicou:
- Estou indo buscar toda a água do mar para colocá-la neste buraquinho...
Santo Agostinho não pôde esconder o riso ante a ingenuidade da menina e logo passou a esclarecer:
- Ah, minha pequena, o que você está tentando fazer não é possível, note que este buraquinho não é capaz de comportar toda a água do Mar Mediterrâneo.
A menina teve então a sua feição subitamente transformada e fixou o seu olhar no de Santo Agostinho, como a vasculhar-lhe as profundezas da alma.
Depois de alguns instantes de silêncio, a menina declarou:
- Da mesma forma a sua mente, que é estreita e limitada, não é capaz de comportar a Mente Divina, que é larga e sem limites!
A declaração da menina fez com que Santo Agostinho se voltasse de imediato para a sua preocupação anterior, o enigma de Deus, compreendendo a impossibilidade, ao menos por enquanto, de solucioná-lo.
Quando Santo Agostinho caiu em si, a menina já havia desaparecido...
***
Esta história, de alguma forma, reflete a grande busca humana...
Oprimido entre os mistérios da sua origem e da sua destinação, num meio físico em que nasce, vive e morre, o homem parece trazer em si, independente de qualquer ensino ou influência cultural, um sentimento mais ou menos vago da existência de algo mais e de algo maior. Esse sentimento, de certa forma, é o responsável pela universalidade do fenômeno religioso, com suas diferentes representações deste “algo mais”e deste “algo maior”.
Preocupado com esta questão, Allan Kardec interrogou os Espíritos Superiores:
Que dedução se pode tirar do sentimento instintivo, que todos os homens trazem em si, da existência de Deus?”
Obtendo a seguinte resposta:
A de que Deus existe; pois, donde lhes viria esse sentimento, se não tivesse uma base? É ainda uma consequência do princípio – não há efeito sem causa1.”
Para os Espíritos Superiores que confabularam com Allan Kardec, o sentimento intuitivo que todo o ser humano possui quanto a existência de Deus, obedecendo ao princípio da causalidade, seria, por si só, uma evidência bastante sólida ou até mesmo uma prova de que Deus existe.
Esse pequeno diálogo, entretanto, ilustra que a questão de Deus é objeto da preocupação tanto dos homens como dos espíritos desencarnados. No mundo material ou no mundo espiritual, da Pré-História à atualidade, das reflexões agostinianas ao Espiritismo, a busca de Deus tem se apresentado como uma constante, manifestando-se de mil modos diferentes, nos quais se identificam as mais variadas concepções a cerca da sua existência e natureza.
O homem atual, em decorrência do estágio evolutivo em que se encontra, tem procurado Deus mais nas coisas exteriores, indo de templo em templo, de igreja em igreja, quase sempre esquecido de procurá-lo dentro de si mesmo, nos espaços incomensuráveis do seu ser espiritual.
Immanuel Kant, famoso filósofo alemão, teria afirmado o seguinte: “Duas coisas me enchem o espírito de profunda admiração, o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim!”Esta proposição talvez nos ofereça, diante da dicotomia exterior/interior, fora/dentro, transcendente/imanente, uma brilhante síntese para compreender e perceber Deus tanto nas dimensões exteriores quanto nas interiores à consciência humana.
A busca de Deus, alcançada por Santo Agostinho e por Immanuel Kant, bem como por Allan Kardec e pelos Espíritos Superiores, é o caminho que nos cabe percorrer, exigindo de nós o crescimento interior, o amadurecimento espiritual.
Isto é o que também propôs Jesus, no famoso Sermão da Montanha, quando asseverou que são “bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus2, estabelecendo a elevação da alma (pureza do coração) como pré-condição para alcançar, compreender e ver a Deus.

1KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 3. ed. (bolso) Brasília, DF: FEB, 1997. Questão 5, p.52.
2Mateus, 5:8.

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