I – O Mestre esclarece o que somos
Aquele era um dia muito especial. Era uma manhã diferente de todas as outras manhãs!
Os discípulos privariam da presença do seu amado Mestre.
A expectativa era tamanha que todos achavam-se em verdadeira festa íntima, em indescritível receptividade.
Na hora combinada, chegou o Mestre. Vestia sua tradicional túnica branca. Trazia os cabelos longos e ondulados como de praxe. Calçava humildes sandálias.
Esboçando leve sorriso, cumprimentou a todos, desejando bem-estar e paz.
Parecia o próprio sol.
Sua presença transfigurava-se em diáfanas claridades e dominava a todos pela força incoercível do seu magnetismo superior.
Lançando o olhar sobre a grande multidão, perscrutava o mundo íntimo de cada um que estava ali presente.
Fez uma prece, pedindo amparo e inspiração, e, em seguida, se predispôs a responder as perguntas de seus seguidores.
Não demorou muito, Nataniel lhe questionou:
- Mestre Querido, esclarece-nos acerca da nossa identidade, dize-nos, afinal, quem somos?
Respondeu o Mestre com a sua natural solicitude:
- Todas as religiões vos ensinam, inclusive a vossa, que sois um Espírito, sopro saído da Divindade, destinado a suprema glória.
- Mas como? - continuou Nataniel – Não somos, então, o nosso corpo?
- Evidente que não! - respondeu o Mestre – Vosso corpo é apenas uma pálida veste do vosso Espírito glorioso. Vosso corpo nasce, vive e morre. É transitório. O vosso Espírito não. Ele é imortal. É perene. Portanto, vós não sois estes corpos de carne, vasos frágeis, sujeitos a toda sorte de vicissitudes... Em verdade vos digo, vós sois Espíritos!
Perguntou ainda Nataniel:
- O corpo vemos e apalpamos, é fácil identificá-lo e percebê-lo. Mas o Espírito de que nos falais, como é? Qual a sua forma? Com o que se parece?
- Ah! Meus queridos – exclamou o Mestre – Quanta dificuldade em compreender coisas tão simples?! O Espírito não possui forma definida, pois trata-se de uma centelha, uma fagulha, uma chama. Nele repousa vossa identidade, vossa memória, cada uma das vossas lembranças, vossos desejos e sonhos, vossos sentimentos e emoções, vossos potenciais...
- No entanto, – interrompeu bruscamente Nataniel – custa-nos entender algo que não possua uma forma que possamos ao menos vislumbrar.
Esclareceu o Mestre:
- O vosso Espírito, em si mesmo, não possui forma alguma, ao menos uma que possais compreender. Todavia, reveste-o uma substância sutil, servindo-lhe de corpo espiritual, que é idêntico ao corpo de carne. Em verdade, o corpo físico constitui a sua cópia exata. Este corpo espiritual, assim, representa o ponto de ligação entre o Espírito e o corpo de carne, de modo que o que ocorre num reflete-se no outro por seu intermédio.
- Mestre, ainda uma dúvida! - pronunciou Nataniel – Se somos imortais, como dizeis, quando morre o corpo de carne, morre junto o corpo do Espírito?
Disse-lhe o Mestre com carinho:
- Nataniel, Nataniel! Abri a vossa mente ao entendimento das nobres verdades! Quando morre o corpo de carne, o corpo espiritual segue existindo como veículo do Espírito, sendo essencial para a sua manifestação nas novas realidades em que passará a se expressar.
- Mestre, perdoai minha ignorância, permita-me fazer uma última pergunta – falou Nataniel. – O que é que liga o corpo espiritual ao corpo de carne?
Afirmou o Mestre com docilidade:
- Nataniel, Nataniel! Aplicai-vos mais no estudo das Sagradas Escrituras, pois ali acham-se as repostas para todos os por quês, ainda que de forma emblemática. Os textos antigos já falavam do cordão de prata, que é um laço sutil e tênue que faz a ligação a que te referes. Desde a concepção, este cordão já existe prendendo o Espírito ao corpo de carne. Ele perdura durante toda a permanência do Espírito no corpo de carne. Somente se desfaz, quando o corpo de carne morre, devolvendo ao Espírito a sua liberdade.
Nataniel, sem ficar constrangido, agradeceu ao Mestre as palavras simples que lhe iluminaram o íntimo.
E o Mestre, como que resumindo o que até então havia exposto, sentenciou:
- Vós sois todos Espíritos Imortais, não vos enganeis! A parte essencial do vosso ser é a espiritual. Preexiste e sobrevive ao corpo de carne. É a herdeira de todas as vossas realizações e conquistas. Leva consigo a pobreza ou a riqueza que amealhastes na vida terrena, consistindo no modo como vivestes entre os vossos semelhantes. Vos digo isto para que modifiqueis vosso comportamento enquanto ainda há tempo. Muitos de vós conheceis a Lei Divina, mas poucos a têm praticado em seu dia-a-dia. O conhecimento que vos trago, sobre a vossa condição de imortalidade, é suficiente para que procureis tornar-vos melhor... Bem-aventurados são aqueles que compreendem estas minhas palavras e as vivenciam até as suas últimas consequências, pois o seu futuro será de alegrias e glórias!
A multidão manteve-se em silêncio, meditando na profundidade da lição recebida.
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