1 – A atual mundividência.
Cada período histórico é marcado por um conjunto de características específicas que lhe confere relativa unidade. Dentre estas características, destacasse a mentalidade ou imaginário. Constituindo a maneira como um determinado indivíduo e uma determinada sociedade representam e interpretam o mundo, a visão e o entendimento que possuem da realidade da qual fazem parte, a mentalidade influencia diretamente o comportamento do homem, formando as linhas-mestras pelas quais se guiará na vida.
A mentalidade que predomina em nosso tempo é produto de uma longa evolução iniciada há mais ou menos cinco séculos, coincidindo com a ruptura dos modelos teocráticos que estavam em vigor, com a emancipação política, social e intelectual do homem, com o progressivo desenvolvimento da ciência, com o advento da tecnologia, com o rápido avanço dos meios de comunicação, com a vulgarização do conhecimento e da cultura, com a reavaliação do papel da mulher na sociedade, com a globalização, etc.
Fruto das transformações significativas que o homem e a sociedade sofreram nos últimos séculos, a nossa mentalidade compõe um complexo caleidoscópio que é difícil de ser visualizado num único golpe de vista, sendo ainda mais difícil relacionar entre si as imagens que o configuram. Diante de tal complexidade, qualquer modelo que pretenda descrevê-la pecará pela incompletude. Não se quer aqui apresentar um modelo explicativo da mentalidade corrente, pretende-se tão somente destacar algumas das suas características mais salientes, tais como: a perspectiva materialista, a preocupação exclusiva com o aqui-e-agora, os cuidados excessivos com a aparência, o hedonismo, a crescente artificialização das relações sociais, a dificuldade de lidar com as emoções, a competitividade, o culto ao dinheiro e ao que ele pode comprar, a degradação do meio-ambiente, a promiscuidade e a prostituição nas relações afetivas, e por aí vai.
Realizando a intermediação entre o homem e o mundo, a mentalidade é o eixo em torno do qual giram os nossos pensamentos e hábitos, os nossos comportamentos e atitudes... Reconfigurando a mentalidade, a partir de padrões éticos e morais mais elevados, reconfiguraríamos a forma como o homem pensa e se comporta, bem como as relações que mantêm com os outros e com o meio-ambiente em que vive.
Nossos esforços devem ser concentrados na reconfiguração da nossa mentalidade, pois ela é a chave para uma vida mais justa e equânime, mais equilibrada e feliz.
2 – O surgimento de uma nova mundividência.
Toda mentalidade surge, desenvolve-se, atinge um ponto culminante, predomina durante algum tempo, sofre desgastes e rupturas, enfrenta lenta ou rápida decrepitude e termina por desaparecer. A mentalidade atual não foge à regra, podendo ser situada entre a fase de predominância e a de desgastes e rupturas. Uma evidência disto é a tomada de consciência quanto aos múltiplos problemas por ela gerados e a paulatina emergência de novos valores, idéias e atitudes.
Destacou-se acima, como uma das principais características da mentalidade vigente, a perspectiva materialista e as preocupações imediatistas que dela resultam. Essa característica parece alicerçar nossa mundividência, fundamentando seus pressupostos e idiossincrasias. Pois é justamente nesse ponto que se verifica o surgimento de uma nova tendência: o progressivo interesse pelos temas ligados à espiritualidade.
Na contramão das expectativas da maioria dos pensadores dos séculos XIX e XX, que afirmavam a morte de Deus e a inexistência de qualquer coisa além da matéria, este retorno do homem para o espiritual e para os valores que ele enseja, vem demonstrar a falência do materialismo, possibilitando uma nova compreensão de si mesmo, do outro, da vida, do mundo...
Em diferentes partes do mundo é possível identificar, ainda que através de minorias criativas, o aparecimento de novos modelos explicativos do homem e do universo que não desconsideram, como o fazem os modelos em vigor, os aspectos espirituais da vida.
É, pois, a partir desta nova tendência de busca pelo campo espiritual que se formará uma nova mentalidade, mais consentânea com as necessidades e inquietações do presente.
3 – A compreensão da morte como paradigma para uma nova mundividência.
Um dos maiores paradoxos do nosso tempo é o da despreocupação em relação à morte. Por impositivo biológico: nascemos, vivemos e morremos... O absurdo consiste em vivermos como se nunca fôssemos morrer. A questão da morte segue sendo tabu em nosso meio. Não se deve ou não convém falar à respeito, como se o fato de ignorar o fenômeno da morte fosse, de alguma forma, retardá-la ou impedi-la.
Por mais longa que seja a vida na Terra, ela sempre terá um termo. Como a morte sempre chega para todos, por que tanta resistência em considerá-la? Por que fingir que ela nunca chegará para nós? Essas duas perguntas podem ser respondidas com facilidade. A nossa mentalidade, genericamente, associa à morte não só o fim da vida física, mas o fim de tudo. Morreu, acabou! É o ponto final dos amores, das afeições legítimas, das amizades sinceras... Por isso a morte, em nossa cultura, está inelutavelmente ligada à tristeza.
A visão da morte como o fim de tudo, entretanto, não condiz com a realidade. Há inúmeras evidências que positivam a sobrevivência do ser após à morte. Citando apenas algumas: a experiência de quase morte, na qual a pessoa, por ter sofrido um acidente ou uma parada cardíaca, vê-se fora do corpo físico, preservando a sua individualidade e mantendo a consciência do que está ocorrendo em seu derredor; as visões em leito de morte, nas quais a pessoa que está na iminência da morte vê e até conversa com entes queridos que já estão mortos há muitos anos; as experiências de desdobramento, nas quais o indivíduo, voluntariamente, consegue projetar sua consciência para fora do corpo físico; as comunicações mediúnicas, que ocorrem de mil modos diferentes, atestando inequivocamente que a vida continua após à morte... Diante disto, é inevitável encarar a morte de frente e procurar uma solução para o seu problema.
Infelizmente, por reforços contínuos, a temática da morte é sempre evitada, quando deveria ser estudada com seriedade e sem idéias preconcebidas. Com raras exceções, os estudiosos se recusam em trazer para dentro do espaço acadêmico a discussão sobre o fenômeno da morte, temendo sofrer alguma represália ou retaliação por parte dos seus pares. Se a morte não fosse o tabu que é em nossa cultura, com certeza teríamos mais informações à seu respeito, decorrentes de pesquisas sérias e seguras.
Quando a morte e o que vem depois dela for mais estudado e, por conseguinte, melhor compreendido, operar-se-á uma significativa mudança em nossa mentalidade, mudança esta que se refletirá diretamente em nossos padrões comportamentais, resultando num novo tipo de homem e num novo tipo de sociedade.
4 – A proposta espiritista.
Desde a segunda metade do século XIX, quando surgiu, o Espiritismo vem apresentando uma proposta alternativa para a solução dos grandes enigmas existenciais. Ao formar um sistema de pensamento original, baseado na observação, na experimentação e na interpretação dos fenômenos mediúnicos, aqueles em que um indivíduo que já morreu se manifesta, o Espiritismo representa um modelo explicativo da realidade muito mais abrangente e completo do que os demais que estão em voga no presente.
Esclarecendo a origem, a natureza e a destinação do homem, o Espiritismo responde as eternas indagações da filosofia e, em assim fazendo, oferece um roteiro inigualável para a reconfiguração da nossa mundividência.
Em resumo, o Espiritismo explica que: 1- todos somos Espíritos imortais; 2- fomos criados por Deus, simples e ignorantes; 3- preexistimos e sobrevivemos ao corpo físico; 4- esta não é a primeira vez que estamos aqui, pois encarnamos, desencarnamos e reencarnamos periodicamente; 5- o nosso objetivo existencial é o desenvolvimento de todas as nossas potencialidades; 6- não estamos sós no Universo, havendo uma pluralidade infinita de mundos habitados; 7- em nosso derredor existem Espíritos em diferentes faixas vibratórias que não percebemos mas que, muitas vezes, interferem em nossas vidas; 8- é possível a comunicação entre vivos e mortos; 9- as leis divinas possuem validade em toda parte, devendo nos orientar a conduta; 10- somos responsáveis pelos pensamentos, palavras e ações que produzimos, respondendo por eles.
Levado às suas últimas consequências, o Espiritismo impõe uma profunda modificação do modo como se vê a realidade e, por extensão, do modo como se interage com ela.
Aquele, pois, que aceita a proposta espiritista, está se comprometendo, automaticamente, com a sua autotransformação, desencadeando um processo de reação em cadeia, influenciando para melhor as pessoas que lhe cercam e, assim, o mundo como um todo.
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